domingo, 31 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro


          Tropa de Elite não só ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlin de 2008, como também criou um ícone para milhões de pessoas. Um autêntico anti-herói que tornou-se, repentinamente, um expoente da cultura pop. Afinal, quem nunca se divertiu citando as clássicas frases do Capitão Nascimento?
          Avaliando-se o cinema nacional, mostra-se extremamente importante ressaltar que tal fato, se não raro, era inexistente. Portanto, José Padilha deve ser aplaudido não só pelo filme que fez, mas também pela difícil tarefa de, três anos depois, aceitar continuá-lo.
          O diretor, entretanto, volta apenas porque ainda há uma excelente história a ser contada: Tropa de Elite 2 funciona, entre outros fatores, por sua enorme relevância na atual sociedade brasileira. Além de desmitificar o herói que criou, Padilha mexe em um vespeiro incontestável: A política. O resultado é um filme melhor em aspectos técnicos, mais denso e principalmente mais crítico!
          Na trama, Roberto Nascimento, treze anos mais velho, adquire o posto de comandante geral do BOPE e, posteriormente, o de Sub Secretário de Inteligência do Rio de Janeiro. Por meio de seu novo cargo, o personagem consegue, gradualmente, reduzir o tráfico de drogas na cidade. Contudo, Nascimento percebe que suas ações apenas colaboraram para um problema ainda maior: As milícias. Seu inimigo tornou-se, portanto, muito mais perigoso e encará-lo talvez signifique sacrificar a própria vida pessoal.
          Logo na primeira sequência de cenas, Padilha dá ao público uma verdadeira aula de cinema, pois usa recursos que proporcionam um ritmo acelerado ao longa, fator essencial a qualquer obra de ação. Como exemplo, têm-se a antecipação do clímax, cortado em momento chave pelo título, acompanhado pela famosa música tema do Tihuana. Destaca-se também a intercalação das falas de Nascimento e Fraga, personagens com ideologias completamente opostas.  
          Por meio dessas frases, aliás, percebe-se claramente que o discurso do personagem é também o do próprio diretor. Ao dizer "Já me chamaram de fascista", Padilha claramente usa Nascimento para alfinetar as críticas feitas ao primeiro longa.
          A narração, feita por Wagner Moura em várias partes do filme, é outro recurso muito bem pensado pela equipe criativa. Se Nascimento é o personagem foco da história, nada mais propício do que ele mesmo narrá-la. Além do mais, tal recurso adquire, às vezes, tom explicativo, economizando cenas no filme, o qual tem praticamente duas horas de duração.
          A propósito, Wagner Moura retorna, extremamente confortável, ao personagem mais marcante de sua carreira e entrega outra excelente atuação. Seu personagem tem problemas no trabalho, na família e nada parece dar certo... Nascimento, basicamente, apanha de todos os lados. Em alguns momentos chega a ser difícil acreditar que alguém tenha tanta força para continuar lutando. Porém tal fato, por mais difícil que pareça, se justifica na própria ideologia do personagem. Para ele "a guerra é uma válvula de escape". Dessa forma, "só tem paz... quem aprende a lutar".
          Porém, não só Wagner Moura merece ser lembrado. Tropa de Elite 2 acerta também pela sintonia de seu elenco. Há outras fantásticas atuações como as de Milhem Cortaz, Sandro Rocha e André Mattos que logo conquistam o público.
         Entretanto é Irandhir Santos a maior adição ao elenco. Seu personagem, o Deputado Fraga, apresenta-se como a perfeita contra-parte de Nascimento. É engraçado ver como os dois tendem a se aliar do decurso do filme pois, apesar da richa pessoal, ambos têm um inimigo em comum. Um inimigo forte demais para se enfrentar sozinho. Contudo, Padilha representa em cada um, uma forma distinta de enfrentar o sistema. De um lado, Nascimento: violento e considerado fascista por alguns. De outro, Fraga: pacífico, defensor 'da esquerda'... quase um Che Guevara.
          Dessa forma, fica clara a mensagem do diretor: Não interessa de que lado você esteja, o importante é lutar. Por mais que o sistema entregue a mão para não perder o braço, ele sairá enfraquecido e aos poucos vitórias se acumularão. Na cena, perto do final, em que Padilha sugere como seria se BOPE abordasse também a elite corrupta, o público vai ao delírio. Isso porque aquela é, de fato, a vontade de todos. Naquele instante, todos se projetam em Nascimento pois todos têm a vontade de dar uns bons tapas em algum político corrupto.
          O povo, claro, não pode agir dessa forma, mas precisa reaver o seu interesse pela política do país já que, por pior que ela esteja, é dele o poder de mudança. Mostra-se necessário acreditar que ainda existem por aí Fragas e Nascimentos dispostos a lutar, sendo que nós mesmos precisamos ser um pouco como eles.
          Por fim, Tropa de Elite é um perfeito exemplo de cinema não só como entretenimento, mas também como ferramenta social. Uma crítica a políticos e policias corruptos, à mídia sensacionalista e principalmente ao Estado, pois é ele, devido à sua ineficiência,  o próprio causador da violência urbana.
          Ver nos créditos de abertura os nomes de José Padilha, Bráulio Mantovani e Wagner Moura deveria ser, para os brasileiros, motivo de orgulho pois é essa a prova de que o cinema nacional pode dar certo. Basta vontade, boas ideias e um pouco mais de investimento. Esses talentosos profissionais tinham a missão de contar uma história crítica que não perdesse sua imersividade. Fica claro que para eles missão dada... é missão cumprida.

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Nao deixe também de checar a entrevista de Padilha concedida à rádio CBN!

Abraços!

4 comentários:

  1. Pedro gostei do seu texto,principalmente pois você evitou o clichê das críticas de Tropa de Elite 2 em que todos falam que esse filme deveria ter sido lançado antes das eleições.

    Mas ENFIM,gostaria de acrescentar uma observação o filme é excelente em quesitos técnicos também,edição de som e efeitos visuais ESTÃO no nível de grandes Blockbuster como Os Mercenários

    Tropa de Elite 2 FOI O melhor filme que vi no ano
    PS: irei fazer um texto após eu ter lido o livro
    elite da tropa

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  2. Valeu Jack! Fico feliz pelo elogio, já que também gostei muito do filme e queria realmente escrever algo relevante sobre o mesmo! Essa é , aliás, a justificativa para o post ter sido lançado com tanto atraso.
    Obrigado pelo lembrete: a parte técnica ficou realmente excelente.
    Espero o seu texto!
    Até.

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  3. Ótima crítica!!!

    Esse é com certeza um dos melhores filmes do ano.

    Abração,
    Thomás

    http://brazilianmovieguy.blogspot.com/

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  4. EAE Pedro esse filme tem uma critica politica gigante!!!Concerteza o melhor filme deste ano.
    Abraço Edi

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