sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Millenium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

          Remakes e reboots tornaram-se uma constante em Hollywood. No ramo mais comercial do cinema, que hoje envolve, em sua maioria, os super-heróis, o termo nem sequer gera estranheza. Porém, ver essa tendência se arrastar para um cinema mais autoral gera reflexões distintas. A primeira reação é de desprezo à indústria americana, por parecer não aceitar um cinema popularizado sem seu selo. Por outro lado, deve-se concordar que o público ganha ao ter uma nova visão sobre uma mesma obra. E quando o trabalho em questão é de David Fincher, fica difícil ignorá-lo, seja ele um remake ou não.
          Millenium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres mostra-se como mais uma grande obra do diretor, que outra vez surpreende ao revelar faces incômodas da natureza humana. Na história, que tem a Suécia como pano de fundo, Mikael Blomkvist é um jornalista investigativo que vê sua carreira ruir ao perder um processo judicial por falta de provas. Contudo, quando o poderoso Henrik Vanger o contrata para um serviço particular, Mikael terá a chance de provar a si mesmo que seu faro continua aguçado. Nesse misterioso caso, o jornalista terá a ajuda da atípica Lisbeth Salander, peça intrigante do longa que mostra-se como a verdadeira protagonista de Fincher.
          Em primeiro momento, fora uma breve conexão, as tramas de cada um (Blomkvist e Salander) são paralelas. Mesmo com o foco em Mikael, Fincher precisa exacerbar as motivações de Lisbeth para que o público entenda os atos da mesma. Aliás, apesar do visual que gera estranheza, em poucos minutos tem-se afeto pela moça. Pois é evidente a mulher fragilizada que se encontra por trás do visual punk. A partir daí, seu comportamento e seus atos (inclusive o mais radical) facilmente se justificam.
          Lisbeth é, por completo, traumatizada e Fincher a usa como exemplo para retratar uma sociedade em que a imposição do homem prevalece, mesmo que pela força física. Ao lutar contra atos de tamanha repugnância, a personagem acaba sendo romantizada pelo diretor. Perceba como seu corpo franzino é mostrado várias vezes, sem pudor. Fato que apenas maximiza a desvantagem da moça, mas ressalta que seu trunfo é sua esperteza.
          Logo, quando os caminhos dos personagens se cruzam, têm-se uma nova etapa para destrinchar o comportamento de Lisbeth. Note como sua primeira reação é de desconfiança em reação à Mikael. Pois tudo o que ela já sofreu não lhe permite simplesmente confiar nele à primeira vista.
           O aprofundamento da relação é gradual e Daniel Craig faz sua parte. Apesar de um estilo muito 'Bond', o qual demonstra certa emoção contida, o perfil másculo e sedutor, mas também cavalheiro, colabora com uma aproximação entre a dupla.
          Entretanto, quando o filme demonstra estar em seu fim, mais um desfecho é necessário, pois afinal, o longa é sobre Lisbeth; e Fincher precisa mostrar as consequências de sua interação com Mikael, desnudando não uma essência determinista, mas apenas puramente traumatizada. A possibilidade de mudança existe, mas a vida novamente prega outra de suas peças.  
          Por trás da ambientação gélida e fria, Fincher cria um suspense tenso que prende o expectador pelos 158 minutos do longa, que parecem voar. Logo na abertura, tem-se uma noção do que está por vir: Trent Reznor, responsável pela trilha sonora energiza o público com uma pulsante versão de "Immigrant Song", clássico do Led Zeppelin. 
          Por fim, com tudo o que está disponível na internet, pode-se perceber que o diretor fez muitas alterações na obra original (o livro). Entretanto, se sua versão não concede leveza à obra, por que não dar ao público também a chance de ver o original sueco? Fincher não tem culpa disso; seu filme é excelente, mas a imposição imperialista de Hollywood ainda é uma realidade. E, certas vezes, incomoda.

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